" Como qualquer benfiquista, o meu estado de espírito não é muito recomendável. Em oito jornadas, passar de 5 pontos de vantagem sobre o rival para 4 de desvantagem (que, na prática, são 5), é difícil de digerir. Sobretudo se considerarmos que a equipa fez uma carreira brilhante na Champions (de onde o FCP saiu cedo e sem glória) e conquistou a Taça da Liga (uma prova mais difícil do que a Taça de Portugal).
É por isso, por ter criado tão altas expectativas, que os benfiquistas não se conformam com a possibilidade de voltar a perder o campeonato e disparam as suas setas sobre o alvo mais fácil: o treinador. “Jesus, dizem, não roda a equipa, preferiu Emmerson a um ex-campeão do Mundo, é arrogante, inventa, não sabe defender os resultados, as suas equipas rebentam sempre nos finais da época”, repetindo os lugares-comuns lançados por quem beneficia com a instabilidade do clube.
Ora, Jesus é um dos quatro melhores treinadores portugueses e o melhor que o Benfica teve desde a primeira época de Erickson. Graças a ele, pela primeira vez em muitos anos, o Benfica joga um futebol de grande qualidade, fez óptimas contratações, valorizou jogadores e levou uma equipa habituada a entregar o campeonato no Natal, a garantir sempre um lugar na Champions. É verdade que correu alguns riscos: aceitou jogar sem um lateral esquerdo ao nível do resto da equipa, entre Emerson e um Capdevilla com muitos quilómetros nas pernas, apostou no que lhe pareceu mais fresco, e encarou o jogo de Guimarães com alguma sobranceria. Mas, quanto à “quebra” no final da época, é bom lembrar que a equipa que perdeu em Alvalade (com a arbitragem de Artur Soares Dias), foi a mesma que, em 27 dias, ganhou ao Beira-Mar, fez duas exibições brilhantes com o Chelsea (a única equipa inglesa na Champions e que, portanto, não podia ser eliminada), afastou o FCP da Taça da Liga, empatou em Olhão, venceu o Braga, e teve 65% de posse de bola em Alvalade. Quanto às “invenções”, a verdade é que Jesus “inventou”, com sucesso, durante toda a época; e quanto às deficiências táticas e na comunicação, que eu saiba, não foram as limitações de Vítor Pereira como treinador nem a boçalidade das suas afirmações que impediram o FCP de estar à frente do campeonato.
As razões porque o Benfica se arrisca a perder o campeonato são outras: uma estrutura amadora ao nível da direcção desportiva e da informação/comunicação, que não soube acautelar e muito menos contrariar os efeitos da pressão sobre as arbitragens e a disciplina da FPF (à qual Vieira deu o seu apoio “incondicional”), que coincidiu com a recusa da proposta da Olivedesportos, e que voltaram a condicionar os resultados neste final da época: em Coimbra, na Luz com o FCP, em Olhão e em Alvalade. Sem falar do castigo inédito de 2 jogos a Aimar, que o afastou cirurgicamente do último dérbi.
Os “abutres”, que aparecem sempre nestas alturas, preferem atirar a toalha ao chão e pedir a cabeça do treinador. Mas, o símbolo do Benfica é a águia, e não o abutre, e, se não houver arbitragens viciadas, tudo estará em aberto até à última jornada.
Com eleições à porta, há dois compromissos, por isso, que Vieira deve assumir: respeitar o contrato que fez com o treinador e não renovar o contrato com a Olivedesportos. O próximo Presidente, que poderá ser ele, não pode ficar amarrado a decisões que, de outro modo, comprometeriam a sua margem de manobra e o futuro do clube."
António-Pedro Vasconcelos, in SOL 20 de Abril (Retirado de: Master Groove em http://mastergroove2010.blogspot.pt/2012/04/pv-o-momento-do-benfica-artigo-completo.html?spref=fb)
Sem comentários:
Enviar um comentário