"Meus amigos:
Gostava que me dessem a oportunidade de me referir aos acontecimentos desta semana. Tentarei que seja a última vez até porque, doravante, o assunto só serve para cansar e desgastar. Lá vai…
1. Não me peçam, nem agora nem
nunca, que não festeje um golo do Benfica. Faço-o há muitos anos, desde
que me reconheço como gente. Já me aconteceu ter que o fazer em campos
tidos como adversos – as antigas Antas, o antigo Alvalade. Não festejo
contra ninguém, nem me pinto de raiva ou de provocação. Gosto muito do
meu clube. Tenho esse direito.
2. Festejei o golo no
enquadramento errado. Se não tivesse consciência plena desse deslize,
não tinha posto o meu lugar no “Zona Mista” à disposição ainda antes de
as campanhas orquestradas chegarem ao seu destino. Ou seja, tenho
consciência de que errei. Saber se existiu proporcionalidade entre o meu
lapso e a posterior sentença, isso é outra conversa. Tenho a minha
opinião (por mais que isso custe aos que viram nessa minha mania uma
coisa qualquer chamada “falta de isenção”) mas, com vossa licença, opto
por guardá-la.
3. Desafio um adepto de qualquer
clube a manter-se quieto depois fechado num estúdio – já a comentar as
incidências de um jogo mas sem poder perder as jogadas-chave de outra
partida, que terá que comentar de seguida e que se reveste de muito
maior importância – diante de um encontro que decide a continuidade nas
corridas ao título, emotivo como aquele foi, decidido no último quarto
de hora, e com um golo favorável no tempo de compensação. Foi infeliz o
gesto? Sim. Foi desajustado? Sim. Foi tudo um grande azar? Quero
continuar a pensar que sim. Mas não posso sequer garantir, para ser
sincero, que não voltaria a fazer-me o mesmo, de uma forma espontânea e
não premeditada. Por maioria de razão, não foi – insisto – uma
provocação a ninguém, muito menos aos adeptos do Sporting de Braga.
4. Quanto à minha “atitude
continuada” no programa, digo apenas isto: nunca me limitei nas minhas
críticas pelo facto de ser adepto do Benfica. Julgo, inclusivamente, que
o condicionamento funcionou ao contrário, obrigando-me a ser mais
exigente com o meu clube do que com os outros. Nunca ofendi nenhuma
instituição, nunca mencionei sequer a vida privada de dirigentes,
técnicos ou jogadores – as críticas foram sempre dirigidas a
comportamentos públicos e relacionados com o futebol.
5. Apesar de poder ter ofendido –
involuntariamente – alguns telespectadores com o meu gesto, acabei por
ser agradavelmente surpreendido com a quantidade de mensagens de apoio
que recebi de sportinguistas e portistas, bem como de alguns adeptos do
Braga. Agradeço o gesto, que me deixa mais descansado quanto ao meu
desempenho no programa. De caminho, e sem querer entrar em discussões
académicas, quero deixar bem claro que não acredito na “isenção” ou na
“imparcialidade”. Respeito, evidentemente, todos os meus parceiros de
ofício que optam por não revelar as suas preferências clubísticas. Eu
escolhi outro camnho mas, dentro daquele estúdio de tantos sábados, a
única camisola que vesti foi a da RTP. E, se quiserem, a de um combate
por um futebol melhor e mais autêntico.
6. Tenho que agradecer aos benfiquistas o apoio demonstrado. Algumas mensagens foram verdadeiramente comoventes, outras muito estimulantes. E, de alguma forma, acaba por ser significativo o facto de elas não virem de gente com responsabilidades directivas, mas das bases, dos adeptos, dos meus pares. Não esquecerei o aconchego, nesta hora complicada de viver.
7. Agradeço aos meus amigos, a
todos os que não conheço, a alguns com quem não falo há mais de vinte
anos, à minha família (que se afligiu e a quem recordo que aquilo que
não nos mata torna-nos mais fortes), a camaradas de profissão que
julgava perdidos no tempo, a jornalistas que mal conheço, a figuras
públicas cuja atitude não precisa de ser aqui publicitada, até velhos
companheiros destas e outras lides (pelo incómodo que isso lhes possa
ter causado não devo deixar de referir o Pedro Ribeiro, o Paulino
Coelho, o José Mariño, o Jorge Alexandre Lopes, o Manuel Queiroz, o João
Querido Manha, o Nuno Dias, o Leonardo Ralha, o José Carlos Soares, o
João Carlos Silva, o Miguel Carvalho, o Rui Baptista, a Maria João
Fialho Gouveia, o Luís Miguel Pereira, o José Zambujal, a Lurdes Feio, o
José Paulo Fafe, a Raquel Morão Lopes, o Paulo Marcelino – obrigado a
todos e mais aqueles de que possa estar a esquecer-me.
8. Ironizando, quase apetece
dizer que valeu a pena tudo isto só para ser nomeado numa coluna do José
Ferreira Fernandes, a quem fico devedor de mais esta atenção. Como de
costume, ele viu o pormenor que escapa aos outros. Como é seu hábito,
partiu do ponto para chegar ao todo. Soube-me especialmente bem o
propósito guerreiro da Helena Sacadura Cabral e da Maria João Duarte. O
meu parceiro, Pedro Rolo Duarte, esse nunca falha. Permitam-me, ainda
assim, que saliente uma mensagem simples, “um abraço” só, de um homem
com quem nunca falei pessoalmente mas que, se dúvidas houvesse (e eu já
não as tinha), se confirmou como aquilo a que os meus avós chamariam “um
cara direita” – Nuno Gomes, o (antigo) capitão do Benfica, hoje
profissional de mão cheia do Braga.
9. Nesta espécie de despedida,
antes de voltar à “vida real”, faço questão de agradecer a dois homens
que, pela entrega, pelo profissionalismo, pela boa disposição e por um
quase infinita capacidade de trabalho, caminham para o lugar dos eleitos
num mister que não é para todos – o Hugo Gilberto e o Manuel Fernandes
Silva. Não há melhor. Quanto ao Bruno Prata, quero afiançar-lhe que,
escaramuças à arte, guerrilhas postas de lado, mantenho o que disse na
primeira emissão do “Zona Mista”: aprendi com ele. Futebol mas, mais do
que isso, lealdade e disponibilidade. Já que não nos deixam ser
adversários, lá teremos que ser amigos.
10. Tendo reconhecido o erro,
tendo lamentado o sucedido, há uma pessoa que me obriga a ir mais longe.
Por ter apostado em mim quando nada o obrigava, por me ter brindado com
este desafio e porque o capítulo final é tão murcho, resta-me pedir
desculpas ao meu amigo Carlos Daniel. Garantindo-lhe que há casos em que
a memória funciona mesmo.
11. Aos que escolheram o
insulto, a insinuação, a mentira, a queixinha – já conseguiram o que
queriam. Agora, por favor, vão marrar para outro lado, que eu,
felizmente, tenho mais que fazer.
12. Gostaria, se me permitem
esse desejo, que fossem desactivados os grupos de apoio e as petições em
que eu esteja envolvido, mesmo indirectamente. Esta terra tem problemas
sérios demais para que se gaste tanta energia, tanta disponibilidade e
tanto tempo com questões que são verdadeiramente acessórias.
13. Num país onde os lapsos
andam à solta, onde se mente impunemente, onde se rouba sem
consequências, onde se abusa dos mais fracos, onde se lançam cortinas de
fumo para que as pessoas se esqueçam dos seus problemas, posso dizer
que, ao menos no meu caso, a culpa não morre solteira. Azar meu: foi
justamente agora que ela, a culpa, decidiu casar-se e ser monogâmica.
14. Obrigado, ainda uma vez. Até um dia destes. Boa Páscoa. Espero as amêndoas só na segunda-feira."
Enquanto uns são postos na rua por levantarem um braço num festejo de um golo por parte do seu próprio clube, Migueis Sousas Tavares continuam a vomitar o ódio que sentem pelo SLBenfica sem papas na língua.
Enquanto uns são postos na rua por levantarem um braço num festejo de um golo por parte do seu próprio clube, Migueis Sousas Tavares continuam a vomitar o ódio que sentem pelo SLBenfica sem papas na língua.
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